
Argamassas Estaleiro vs Argamassas Fabris
Uma argamassa de construção é um produto que resulta da mistura de um agente ligante com uma carga de agregados. São conhecidas há mais de 8 000 anos, sendo tradicionalmente utilizadas para construir paredes e muros e para revestir paredes.

Até à segunda guerra mundial, as argamassas eram regularmente produzidas na obra onde iriam ser aplicadas, normalmente chamadas de “argamassas de estaleiro”. Isto implicava que as matérias-primas teriam de ser transportadas individualmente para a obra, onde seriam armazenadas até ao momento da utilização, sendo então misturadas, nas proporções pretendidas e em seguida aplicadas, antes de acabar o seu tempo aberto.
Desta forma, ao montar o estaleiro de obra seria necessário garantir a existência de espaço suficiente, não apenas para o armazenamento das matérias-primas, como para o seu doseamento e preparação.
Seria também necessário afetar mão-de-obra especializada, exclusivamente para a tarefa de dosear e preparar as argamassas, sendo que apesar deste facto, poucas garantias existiriam acerca da consistência da qualidade das argamassas produzidas.
A ausência de requisitos mínimos de qualidade para as argamassas de estaleiro, por contraposição com as argamassas fabris, cria um cenário de incerteza em relação ao seu desempenho e coloca em causa a segurança das construções. Esta situação pode resultar em:
- Riscos para a segurança de pessoas e bens: A utilização de argamassas de estaleiro, com qualidade inconsistente, pode resultar em patologias construtivas, como fissuras, descolamentos e perda de resistência, comprometendo a integridade das edificações;
- Concorrência desleal entre agentes económicos: A inexistência de um standard mínimo de qualidade para as argamassas de estaleiro, cria um ambiente de concorrência desigual, prejudicando empresas que investem em controlo de qualidade, tecnologia e cumprimento de normas, para produzir argamassas fabris;
- Falta de transparência e de informação para os consumidores: A ausência de regulamentação dificulta a rastreabilidade dos materiais e impede que os consumidores façam escolhas conscientes, baseadas em critérios de qualidade, segurança e sustentabilidade.
Argamassas Fabris
Na moderna indústria da construção existem, cada vez mais, preocupações com a racionalização dos custos, com o cumprimento de prazos, com a qualidade e durabilidade da aplicação em obra, com as questões ligadas à sustentabilidade, limpeza e arrumação do estaleiro de obra, e, principalmente nos centros urbanos, com a falta de espaço disponível para os estaleiros de obra. Assim, o velho método de preparação em obra das argamassas, o método tradicional, torna-se, cada vez menos adequado, e como resposta a estas questões foi desenvolvida, a partir de 1950, a tecnologia para a produção industrial de argamassas de construção. Veja-se abaixo, um exemplo de uma linha de produção das denominadas “argamassas fabris”.
Nas argamassas fabris, o doseamento e mistura das várias matérias-primas são realizados, de forma perfeitamente controlada, numa instalação fabril. Esta argamassa de construção é expedida para o cliente, pronta a ser misturada com água (no caso mais comum das argamassas secas) ou pronta a aplicar (no caso das argamassas estabilizadas, de forma semelhante ao betão pronto). A expedição é geralmente feita ou em saco ou a granel, para a alimentação de um silo colocado em obra, conforme o tipo de produto, o volume de consumo, a localização geográfica da obra, o espaço disponível, entre outros fatores que podem determinar esta opção.
Desta forma a obra ganha em termos custos de mão-de-obra e evita a dificuldade acrescida em encontrar mão de obra especializada para a produção em obra. A obra tem a garantia de que a qualidade da argamassa é constante e adequada ao fim a que se destina. Ao evitar o estaleiro tradicional, garante o respeito pela sustentabilidade, utiliza menos espaço com o armazenamento das matérias-primas (o que se torna ainda mais evidente no caso de ser aplicável a utilização de um silo para granel), mantém a obra mais limpa e arrumada (por exemplo deixam de existir os montes de areias-agregados que tanta sujidade causam), sem esquecer os problemas eventuais de saúde pública que advém das sílicas respiráveis oriundas de matérias primas manipuladas em estaleiro, por exemplo.
Existe ainda uma vantagem fundamental das argamassas fabris, que se prende com a crescente necessidade de produzir materiais de construção, cada vez mais, especializados para um determinado fim. A preparação destes produtos, cujas prestações devem ser rigorosamente conhecidas e estritamente controladas, implica a utilização, em quantidades rigorosamente doseadas de aditivos e adjuvantes. Estas matérias-primas podem entrar na composição de uma argamassa em teores tão pequenos como, escassos gramas para um lote de 1000 kg. Este tipo de precisão nos doseamentos é de todo impraticável numa argamassa de estaleiro, que é preparada em obra. Estes aditivos específicos podem ser adicionados para introdução de ar, como agentes hidrófugos, como redutores de água, como retardadores de presa, entre muitos outros fins.
A APFAC pretende continuar a exposição feita até ao momento, às instituições governamentais e outras, relativamente ao desequilíbrio de utilização de argamassas de estaleiro, de forma descontrolada. Procura-se criar em Portugal, práticas mais justas em termos de controlo das argamassas produzidas em estaleiro, com aumento do controlo do processo. Por tudo isto, a APFAC entende que:
a) A produção das argamassas produzidas em estaleiro deve estar sujeita a um conjunto mínimo de requisitos, considerados relevantes e que são já aplicados às argamassas fabris;
b) A publicação de Normas deverá ser uma prioridade, para evitar a falta de controlo de produção de argamassas de estaleiro.
Existem no mercado uma grande variedade de produtos que podem ser classificados como Argamassas de Construção Industriais, sendo de referir:
Rebocos
Argamassas utilizadas para regularizar, nivelar e proteger paredes e tetos em alvenaria. [EN998-1]
Rebocos - ligante Cal (exclusivamente)
Rebocos que usam exclusivamente a cal como ligante.
Argamassa para execução de rebocos exteriores ou interiores, que utilizam exclusivamente a cal como ligante, em conjunto com cargas minerais e adjuvantes específicos.
A sua preparação consiste numa mistura prévia com água e posterior aplicação manual ou por projeção mecânica. [EN998-1]
Rebocos - ligante Cimento (e outros)
Rebocos que usam o cimento como ligante principal e outros possíveis ligantes secundários, em conjunto com cargas minerais e adjuvantes específicos.
Argamassa para execução de rebocos exteriores ou interiores.
A sua preparação consiste numa mistura prévia com água e posterior aplicação manual ou por projeção mecânica. [EN998-1]
Monomassas
Argamassas coloridas de revestimento.
Argamassas de desempenho para rebocos exteriores, aplicadas numa camada que preenche todas as funções de um sistema multicamada no exterior e que são, regra geral, coloridas. São constituídas por ligantes minerais, cargas comuns e/ou leves, adjuvantes específicos e pigmentos.
A sua preparação consiste numa mistura prévia com água e posterior aplicação manual ou, por projeção mecânica. [EN998-1]
Argamassas de Assentamento de Alvenaria
Argamassas para a elevação de paredes e muros, através do assentamento de vários elementos, como tijolos cerâmicos, blocos de cimento, eventualmente térmicos, ou elementos em pedra natural.
São argamassas constituídas por uma mistura de cimento e/ou cal com cargas e adjuvantes específicos. [EN998-2]
Adesivos
Colas de ligantes hidráulicos conhecidas por “Adesivos”.
Argamassas utilizadas para colar elementos cerâmicos ou pedra natural, em parede ou pavimento, no exterior e interior.
A colagem poderá ser efetuada diretamente sobre diversos suportes como reboco, gesso cartonado, betonilha, ou mesmo outros tipos de suportes especiais.
Podem classificar-se como:
1) cimentícias (C) , quando o seu ligante é hidráulico; a sua preparação consiste numa mistura com água ou dispersão polimérica e posterior aplicação.
2) dispersões (D), quando o seu ligante é hidráulico sob a forma de polímeros em dispersão aquosa. Colas com mistura pronta a usar.
3) reativas (R), quando o seu ligante é uma resina sintética reativa. Podem apresentar-se na forma de 1 ou 2 componentes. [EN12004]
Adesivo cimentício tipo C, com recurso a NPD (No Performance Determined)
Caso particular do adesivo cimentício que recorre a NPD na Marcação CE.
Argamassas cimentícias (C) utilizadas para colar elementos cerâmicos com absorção de água superior a 10%, em parede ou pavimento, no interior, diretamente sobre suportes absorventes como reboco e betonilha.
Argamassas para Juntas
Argamassas usadas nas juntas de ladrilhos.
Argamassa de construção colorida, usada para o preenchimento das juntas de execução resultantes do assentamento de elementos cerâmicos em paredes e pavimentos, exterior e interior.
Podem classificar-se como:
1) cimentícia (C) , quando o seu ligante é hidráulico; a sua preparação consiste numa mistura com água ou dispersão polimérica para posterior aplicação.
2) reativas (R), quando o seu ligante é uma resina sintética reativa. Podem apresentar-se na forma de 1 ou 2 componentes. [EN 13888]
Argamassas de Pavimento
Argamassas usadas no plano horizontal, aplicadas em camada ou camadas, diretamente sobre uma base, de forma aderente, não aderente ou flutuante, para garantir objetivos como enchimento, regularização, nivelamento, estética ou superfície resistente à abrasão.
Podem apresentar-se com base em cimento, sulfato de cálcio, magnesite, asfalto (betuminosos) e resina sintética. [EN 13813]
Betonilhas
Argamassas de enchimento e regularização. Convencionalmente terão espessura superior a 4 cm.
Argamassas usadas no plano horizontal, aplicadas em camada ou camadas diretamente sobre uma base, de forma aderente, não aderente ou flutuante, para garantir objetivos como enchimento e regularização.
Normalmente são argamassas à base de cimento, cargas minerais e adjuvantes específicos. [EN 13813]
Betonilhas tradicionais
Argamassas com tempo de secagem semelhantes às betonilhas tradicionais preparadas em obra.
Permitem a aplicação manual ou de forma mecanizada, sendo sempre necessária uma operação de espalhamento e acabamento/afagamento manual ou mecânico. [EN 13813]
Betonilhas rápidas
Argamassas que incorporam componentes/aditivos para prover presa rápida.
Têm o objetivo de promover uma secagem e presa rápidas, permitindo assim o revestimento ou a colocação em serviço num espaço de tempo mais curto que as betonilhas tradicionais.
Permitem a aplicação manual ou de forma mecanizada, sendo sempre necessária uma operação de espalhamento e acabamento/afagamento manual ou mecânico. [EN 13813]
Betonilhas aligeiradas
Argamassas à base de cimento, cargas minerais, agregados leves e adjuvantes específicos, com densidade após endurecimento, aos 28 dias, inferior a 1400kg/m3 segundo EN 13318.
Permitem a aplicação manual ou de forma mecanizada, sendo sempre necessária uma operação de espalhamento.
Não são adequadas como acabamento final.
Argamassas normalmente associadas a um bom comportamento térmico e acústico. [EN 13813]
Betonilhas autonivelantes
Argamassas de enchimento e regularização que incorporam componentes/aditivos para prover um espalhamento autonivelante, sem recurso a processos de vibração ou compactação.
Convencionalmente terão espessura superior a 4 cm. [EN 13813]
Autonivelantes de regularização e acabamento
Autonivelantes de regularização e acabamento (Exclui betonilhas autonivelantes).
Argamassas usadas para corrigir, nivelar e alisar superfícies, servindo de base para aplicação de revestimentos finais ou constituindo o próprio acabamento. Apresentam-se com elevada fluidez o que lhes confere uma aplicação de elevado rendimento, por mecanização e sem recurso a processos de vibração ou compactação. [EN 13813]
Argamassas de Impermeabilização
Argamassas de Impermeabilização – Argamassas que garantem impermeabilização de um sistema construtivo, i.e., que seja capaz de resistir à passagem de água sob pressão, no estado líquido, de uma seção para outra.
Consoante o contexto, podem apresentar-se como:
1) Produtos impermeáveis à água para aplicação na forma líquida, sob ladrilhos cerâmicos colados (EN 14891), que podem ser apresentadas como uma mistura de ligantes hidráulicos, agregados, aditivos, posteriormente misturados com água ou dispersão aquosa de ligante orgânico (CM), como uma mistura de um ligante orgânico em dispersão aquosa, cargas e aditivos, pronta a aplicar (DM) ou como uma mistura de resinas sintéticas com um ou mais componentes, cargas e aditivos na qual a sua cura ocorre pro reação química (RM).
2) Betumes modificados com polímeros, com ou sem adjuvantes e cargas minerais, aplicados em camada espessa e que podem compreender 1 ou 2 componentes (EN 15814).
Em condições especificas, as soluções de impermeabilização podem ser avaliadas em contexto de utilização como zona húmidas ou coberturas, como parte de um sistema (ou kit) sendo que neste caso são avaliadas no conjunto segundo critérios definidos por Guias de Aprovação Técnica Europeia como o ETAG 022 e ETAG 005.
Argamassas de reparação de betão
Argamassas de reparação de betão (estrutural e não estrutural).
Argamassas adequadas para a realização de trabalhos de reparação, regularização e proteção de betão, com comportamento estrutural ou não estrutural.
Constituídas por uma mistura de ligantes hidráulicos, cargas minerais, aditivos específicos, por vezes incorporando fibras, a misturar com água ou com dispersão polimérica.
Têm propriedades de aderência, durabilidade e compatibilidade adequadas para reparação de betão.
Dependendo dos casos e dos produtos, podem ser aplicadas manualmente com colher ou espátula, por projeção mecânica, ou vertendo em cofragem. [EN 1504]
Argamassas de colagem e recobrimento ETICS
Argamassa de colagem, de revestimento e regularização sobre placa isolante.
Argamassas de base cimentícia ou polimérica utlizadas para colar e regularizar placas de isolamento térmico, baseadas num ligante hidráulico ou polimérico, cargas e adjuvantes.
Podem apresentar-se nas seguintes formas:
1) Argamassa em pó, misturado com água antes de ser aplicada;
2) Argamassa em pó, misturado com um ligante orgânico em dispersão aquosa;
3) Argamassa em pasta, com adição de cimento antes da aplicação;
4) Argamassa em pasta, pronta a aplicar.
Como parte de um sistema, são avaliadas segundo critérios definidos pelos European Assessment Documents (EAD) – Documentos de Avaliação Europeus (DAE): 040083-00-0404.
Argamassas - Revestimento espesso colorido (RPE)
Acabamento – Revestimento espesso colorido (RPE).
Argamassas de acabamento, constituindo um revestimento espesso colorido, utilizadas como rebocos delgados em exterior e interior, que consistem numa mistura de um ou mais ligantes orgânicos, agregados, adjuvantes/aditivos, com água ou solvente. Podem apresentar-se em pasta ou pó.
Em condições especificas, são usadas como camada final de regularização e estética em sistemas de isolamento térmico pelo exterior, como parte de um sistema (ou kit) sendo que neste caso são avaliadas no conjunto, segundo critérios definidos pelos European Assessment Documents (EAD) – Documentos de Avaliação Europeus (DAE): 040083-00-0404.
Argamassas térmicas
Argamassas térmicas, usadas como sistema, com condutibilidade térmica inferior a 0,2 w/m*K.
Argamassas térmicas, formuladas a partir de ligantes minerais, cargas minerais e agregados especiais de muito baixa densidade (poliestireno expandido, argila expandida ou outros), preparadas para aplicação manual ou por projeção mecânica, em exterior ou interior. [EN 998-1]